A poesia é a sublimação dos sentimentos e emoções. É a voz que roga os mais profundos dos nossos desejos, que exprime as mais terríveis contestações. Em sua essência, é expressão de sentimentos, e não um canal como forma de transmitir uma mensagem pura e simplesmente. Partindo da negação da real função da poesia, mesmo a notícia mais corriqueira pode ser transformada em expressão poética. Assim sendo, a busca por esta linguagem nos mais simples fatos do nosso dia-a-dia tem ser tornado cada vez mais comum e, lamentavelmente, utilizado como retórica que nos induz ao consumo.
A indústria do consumo faz uso da pureza da linguagem poética para convencer um público alvo. Propagandas com forte apelo emocional, que visam persuadir e impor novos valores são cada vez mais comuns e atingem as massas de comunicação. O discurso publicitário faz o indivíduo crer que é o herói e o futuro beneficiário de uma busca pelo preenchimento de uma falta (seu desejo profundo) e que ele pode obter esse objeto de busca graças ao auxílio mágico que é o produto apresentado. Trata-se de um exemplo de subversão de valores, em que a compra se ligou à alegria de viver e a publicidade se tornou o discurso hegemônico com relação às emoções.
É inversamente contrário à proposta de Drummond, na qual a poesia é pesquisa, luta, busca do mistério das palavras. Nesta óptica, não é um instrumento verbal para comunicar algo; antes, é um objeto válido em si mesmo, cuja força e autenticidade derivam da plenitude e da opacidade de sua linguagem.
As diversas estratégias e linguagens da sedução proliferam no intuito de conduzir sujeitos à deriva para o porto seguro do consumo e, cada vez mais rapidamente, ao consequente declínio da real função da poesia e da linguagem poética. Um discurso que, lá no fundo, visa não mais que a evocação da liberdade do sentimento, como forma de exprimir a mais artística e singela sensibilidade do poeta diante o mundo, mas que, lamentavelmente, é tem seu uso deturpado no mundo globalizado.
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